Pandemia, fake news e negacionismo ganhando força no Brasil e no exterior. Em todos os níveis sociais, as pessoas se abasteciam diariamente de notícias que pareciam esdrúxulas e absurdas, mas que ganhavam força nos grupos de WhatsApp. O que parecia ser apenas bobagens distribuídas por familiares com pouca noção da realidade, na verdade era uma engrenagem poderosa que ganhava força por meio de estruturas que eram construídas para dizer o que as pessoas queriam ouvir e reforçar as suas crenças.
Foi neste cenário caótico que se fez necessário urgentemente reformular a comunicação do Instituto Butantan. Até então conhecido por muitos como um “lugar cheio de cobras”, o centro de ciências, que já possuía uma área fabril importante e com planos concretos de expansão, precisava dar o recado de que era sim o responsável por parte substancial das vacinas distribuídas no país e que tinha história e responsabilidade para escolher e trazer uma vacina que poderia mudar o curso da pandemia no Brasil.
Em meados de setembro, já com uma nova configuração, a comunicação do Butantan começou a ser reestruturada. Os testes da fase 3 da Coronavac já estavam sendo realizados no país e logo teríamos a vacina. No entanto, sabíamos que as redes sociais precisariam estar preparadas para um verdadeiro cenário de guerra. Isso incluiria ganhar a confiança das pessoas e responder de forma leve e informativa. Mas o mais importante era ter uma equipe afiada que identificasse as fake news com agilidade, buscasse a origem delas e conseguisse neutralizá-las, avisando o quanto antes, por meio de posts, que o conteúdo em questão era falso e tentar impedir que ele se alastrasse.
Ainda no ano passado, muitos comentários eram contrários à vacina da China e duvidavam da sua eficácia e eficiência. Um relatório quase diário nos permite acompanhar as menções positivas, neutras e negativas na rede. As negativas, nas últimas semanas, caíram exponencialmente e as vacinas se esgotaram nos postos quase que imediatamente. A fé em tratamentos preventivos caiu conforme o número de mortos aumentou. Estamos enfrentando, infelizmente, a maior crise sanitária do país. Hoje, a rede nos dá um termômetro de que as pessoas querem a vacina e têm interesse grande em entender a ciência e todos os meandros que cercam a produção de insumos.
Todas as dúvidas são levantadas pela equipe de comunicação e tentamos responder com agilidade. Os cientistas do instituto sempre são consultados, as respostas são editadas para que fiquem de fácil entendimento, pois acreditamos que somente o diálogo pode combater as fake news. A informação fica disponível para quem está aberto e quer entender assuntos como: o que é vacina inativada? Quanto tempo após as doses o corpo atinge a imunização esperada? Por que o Butantan escolheu como parceiro a Coronavac?, entre outros.
Claro, há mensagens com termos mais agressivos, mas acreditamos que por trás desses posts “mal-educados” há alguém que realmente precisa da informação. Além da própria pessoa muitas vezes recuar e agradecer, as nossas respostas a esses posts acabam atraindo mais simpatizantes, que replicam o que foi escrito e assim atingimos mais pessoas. Esse é o objetivo das redes oficiais do Butantan: Informar e esclarecer.
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Vivian Retz é jornalista e escritora, e atualmente é responsável pela comunicação do Instituto Butantan. A jornalista passou por redações como Folha de S. Paulo, UOL e MSN, e há sete anos trabalha na área de saúde. Em 2020 lançou seu primeiro livro, Martina, pela editora Feminas. Ela escreveu este artigo a convite da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (RedeComCiência).
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Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa:
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